Porque minha vida não muda?



Outro aspecto da iniciação[1], após pensar questões de como iniciar os estudos desse campo e ao mesmo tempo conciliar uma vida ordinária, é a sensação de frustação do pretendente ou vocacionado às reflexões místicas. Vivemos em épocas de controle remoto ou dos efeitos visuais das mídias, o que nos impõe a perda do domínio e de consciência de vários processos naturais. Fato que parece ser uma explicação inicial da letargia.
Outro ponto importante na sensação de que a vida não muda, pode ser obtida na complexas teias de nossa subjetividade. Em termos não psicanalíticos, há pontos “cegos” em nossa razão. A exemplo do carro no qual o condutor deve ficar atento ao fato de que em determinados pontos ele não tem visão do espaço esterno ao carro que conduz, podemos dizer o mesmo dá nossa razão. Existem pontos aos quais só conseguimos ver com o auxílio de outra pessoa.  
Pode-se até mesmo ampliar essa ideia de ponto cego para algo mais complexo. Existe mesmo “bolhas” dentro das quais vivem as pessoas. Uma bolha melhor simplesmente não sabe da existência de outra maior, mesmo que a menor se encontre dentro dela. Em outros termos, as pessoas vivem dentro de universos culturais e desconhecem que existem outros.
Todo esse contexto que vai das influências midiáticas às questões subjetivas, contribuem de várias formas para que pessoas  não consigam sair da “mesmice”. O próprio desejo é algo que pode ser colocado em suspenso. Afinal, o que você deseja é desejo seu ou posto pelas novelas? Como medir seu empenho em mudar de vida”?  Ou você deseja é ter o que as pessoas tem, mas diante a frustração de não poder comprar o “iPad”, acaba se sentido mau. Estranha ao mundo e com um falso desejo de se mudar para um lugar paradisíaco, uma comunidade alternativa?
Pensar sobre o “falso desejo” é um ponto de passagem obrigatório.  O outro é sobre os pontos cegos de nossa razão. E nesse sentido é que a literatura dita de autoajuda não consegue “ajudar”, pois nesse tipo de registro comumente não é considerado os pontos cegos da mente.

O que nos leva a pensar que seja necessário, para adentrar com êxito na vida de estudos místicos ou esotéricos, passar por uma escola ou algo similar. Como advertimos, no meio esotérico o amadorismo parece não administrar a contento os “pontos cegos”, antes, até incentivam algumas anomalias. As Igrejas, especialmente católica, seria outro espaço onde a “espiritualidade” encontra guarida e o nível dispensado ao assunto pode ser considerado profissional, porém as questões vinculadas as estrutura eclesiástica impõe outras implicações no tema mística, etc. Por fim, existem os profissionais de análise que contribuem para o conhecer-se a si, passagem fundamental para uma introdução sadia nas reflexões de filosofia mística.
A insistência em uma lugar(khôra) para a promoção desse saber sobre si, incialmente, nos soava como um advogar em causa própria. O guru dizendo que é necessário seu produto. Autopropaganda será o que vamos encontrar aos montes nas mídias e por isso mesmo nossa posição inicial contrária a escolas. Contudo, com o passar do tempo foi nos possível verificar que as pessoas não conseguem romper o circuito vicioso em que estão. A língua se fecha e forma um pensamento circulatório no qual a pessoa não consegue romper. A ruptura será bem encaminhada com a ajuda e técnicas profissionais seja de um filósofo que se dedique a esse tema ou a analistas.  






[1] Trataremos as palavras filosofia mística, iniciação esotérica e espiritualidade como termos próximos. A distinção desses termos será feita em outro texto. Para esse texto as diferenças variam de acordo com o rigor em que é tratado o mesmo assunto ou o  lugar. Filosofia mística é o tratamento dado a conteúdos dito esotéricos, a diferença é que na filosofia há rigor acadêmico, cuidados lógicos, etc. Espiritualidade é o mesmo assunto no seio da Igreja Católica e cristãs, porém com uma marca de submissão à hierarquia posição que acaba por excluir certos temas e assuntos do debate místico. Assim, iniciação ou batizado também carregam o mesmo parentesco, variando apenas a instituição. Nossa predileção é pela filosofia mística, na medida em que o rigor técnico reabilita a discussão da mística de modo sério. 

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