Fruição e produção

No âmbito da produção acadêmica fruir é um pecado moderno para um vício medieval. Sabe-se, ao menos no âmbito da filosofia, que no medievo a pesquisa em Filosofia encaminhava para a ideia de contemplação e fruição. Esse deleite nos dias de hoje é confrontado com a produção, precisamente com muitas produções.

Tal interesse de produção não se dá no vazio é claro. A produção preconizada pelas ciências de fato nos trouxe benefícios, como também efeitos colaterais que comumente esquecemos e somos levados a esquecer. Os benefícios são os mais diversos, mas que em termos gerais podemos dizer que a mitigação das intempéries foi o grande efeito. Deixamos de morrer por coisas bobas, esse é o mito que subjaz a toda a criação instrumental.

Tais mitologias, pois escondem crueldades diversas que ainda persistem, nos naturalizam que quanto mais produzimos mais mitigamos nossas necessidades. E a grande necessidade da morte até poderá ser superada com os aparatos científicos.

Depois, com a aplicação de verbas públicas nas ciências, através das bolsas, se impôs que tem que haver produção como relação justificável. Não se concebe a aplicação de tais recursos sem um produto; fruir com o dinheiro público certamente é um crime. Não é concebível se bancar um pesquisador que meramente passa dias e dias apenas olhando para o cume de uma montanha.

A quantidade portanto tomou o lugar da qualidade e por utilizar a verba pública qualquer pesquisa deve produzir. Esse é um problema para as ciências contemporâneas: como é viver sobre esse vetor de poder? É fácil dizermos que no medievo tudo era em função da teologia e agora? Vivemos sob a tirania da produção? Será que tal vetor compromete?

Filosofia como Exercício, tema que tenho trabalhado, seria o quê? Meu produto seria exatamente a fruição, como equacioná-lo?














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