Trabalho maçônico
FAZER UM TRABALHO MAÇÔNICO?
Sem as mitologias habituais,
maçonaria consiste numa sociabilidade de cultivo de um dado conjunto de saberes
filosóficos. Que no geral pode ser enquadrada num “baixo Iluminismo”, aquele
praticado pela ralé da época áurea em que a aristocracia francesa botava fé nos
poderes da razão cartesiana. (+- Séculos XVII-XVIII)
MAÇONARIA: ASSOCIAÇÃO PARA PROMOÇÃO HUMANA
Se posto que se trata de uma
associação com fins de cultivo de um saber, deve-se esperar que seus “membros”
se lancem de alguma forma em processos de leitura, assimilação, exposição,
produção de reflexões ou ações pautadas nesse dado saber. Soaria estranho uma
certa antipatia pela leitura, pela escrita, pelo espírito epistemofílico. E até
mesmo mais estranho um certo gozo com o saber em geral, mas sobretudo até uma
militância contra o saber sistemático e acadêmico, sem falar por verdadeira
aversão à filosofia acadêmica.
Pois bem, não é estranho aos maçons
tudo dito acima. São sim, com “raras” exceções, pessoas avessas ao saber
reflexivo ou filosófico. Ainda que leem nos seus manuais de orientação das
reuniões semanais palavras, frases, parágrafos de pura filosofia; copias
modificadas de estoicismo, platonismo, aristotelismo; coisas de médio platonismo,
etc.
Até quando procuram denegrir a ideia
de filosofia acadêmica, malhando o douto que nada sabe do “jeitinho” da vida
prática, esquecem que na filosofia estoica e nas várias Escolas Filosóficas do
Império Romano, a definição de filosofia era exatamente algo para “ser
praticado”, para se viver; filosofia de vida, portanto.
Para além dessa “estultice ilustrada”,
recebemos como herança cultural de mais de 20 de governo de exceção, autoritário,
total desprezo pela ideia do debate, pela prosa sobre temas filosóficos.
Toma-se o diálogo, em qualquer regime social autoritário, como sendo algo
menor, fraco, sem valor, improdutivo. Opõe a isso uma ideia de “hierarquia”
medíocre como sendo o o “aristoi”
nosso de cada dia.
Nesse quadro, portanto, temos as
seguintes contradições. O indivíduo que participa de uma sociabilidade fundada
sob a ideia “iluminista” que não gosta de exercitar a razão de modo filosófico
ou qualquer outro método de pensamento racional. Outra contradição, como
iluminista, segue-se ideais liberais, calcados, portanto, na ideia de
liberdades e de regime democráticos. Fato que é negado pela história recente
desse grupo na medida em que participaram, mesmo que sendo a reboque da moda, e
ainda exaltam um governo civil-militar de corte autoritário, contrário às
liberdades individuais, etc.
Por fim, quando se deveria exercitar
a leitura e a escrita dissertativa, nas apresentações de trabalhos reflexivos,
o que se vê é a vexatória copia de textos da internet que são, com muito
frequência, lidos em reuniões e com nível de leitura oral sofrível. Por tudo
isso, essa sociabilidade torna-se uma confraria que nos dias de hoje só
consegue repercutir as pautas dos jornais diários. São meros assimiladores de
ideias estrangeiras... e deles não se pode esperar muito no âmbito da política
(aquela fora dos partidos, da sociedade civil organizada).
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