Paciência para explicar idéias complexas.
É comum dizermos que fulano é fascista ou comunista para
fazermos um tipo de argumentação do terror. Queremos com essa afirmação
enquadrar de vez nosso oponente com um distintivo repugnante; asqueroso.
Ao passarmos pela fase do debate fervoroso e nos colocamos
com calma para pensar o que de fato defendemos e qual modo denunciamos, falta
nos palavras. Esclarecer de fato em que acreditamos e denunciar o que
consideramos absurdo parece-nos um trabalho quase impossível.
A mesma sensação sentimos após nossa formação como professor
de Filosofia. Sabíamos muitos conteúdos, porém, ao lançar na tarefa de ensinar,
a coisa fugia totalmente ao nosso controle. Fazíamos exposições dos assuntos
que julgávamos simples, extremamente corriqueiro e os alunos nada compreendiam.
Era claro quando
dizíamos “tudo flui”, uma simples frase, que expressa uma parte do pensamento
de Heráclito. Explicar porém que tal máxima pretende expressar o movimento
inerente a todas as coisas; que uma laranja está em constante movimento; era
impossível. Simplesmente não havíamos apreendido esta coisa na Licenciatura.
O novo grade aprendizado era descobrir como montar
estratégias para explicar o que pensávamos ser obvio.
A mesma situação se aplica para explicarmos nossas
convicções políticas. Em épocas de “clic” da internet, e de “twiteres”, com
seus micro textos ou mesmo ‘micro-expressão”, desenvolver qualquer idéia que vá
além das frases de efeito imediato torna-se o maior desafio.
Defender sua posição politica de modo a não ser simplista
torna-se um exercício quase impossível. Porém, o crescimento do neo-nazismo e
do “direitismo” por várias partes da Europa prova que essas linhas de
pensamento se valem das explicações muitos simples.
Se estou desempregado: imigrantes islâmicos.
Essa tese tem variações de acordo com a época da história e
lugar. Se fosse na Turquia nos anos trinta poderia ser: “são os armenos e
curdos”. Se nos USA hoje, “os terroristas”. Na Europa da época das cruzadas:
“os infiéis que tomaram a terra santa”.
Em um dado momento, todos os medos e privações são debitados
sobre um outro que é enquadrado como sendo “o bode expiatório”. Aliás, essa era
uma prática que até onde sei estava vinculada a comunidades semitas. Não só de
judeus.
Pode-se somar a prática do “bode expiatório” a prática de
provocar o medo como método mais simples e barato de exercer o poder. Duas
formas que podemos pensar ingenuamente serem do passado distante ou recente.
Porém ela está mais do que viva na europa dos dias de hoje.
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