POR QUE MAÇÔNICA?
. amf .
Triângulo dentro da Catedral de Besaçon, França. |
este texto responde
aqueles que se acham dono da maçonaria.
Academia Maçônica de Filosofia
Prof. Me. Almeida
Academia Maçônica
de Filosofia é uma prática de ensino de filosofia.
O adjetivo
maçom ou maçônico para qualificar uma escola de ensino de filosofia tem longa
história. Seu início pode ser
registrado com Jesus de Nazaré ao afirmar que não era necessário templo para se
cultivar o sagrado. O templo que importava para o nazareno consistia em uma
questão espiritual e não meramente física. Nesse sentido, soma-se o fato de que
o termo maçom, originalmente do francês maçon,
quer dizer pedreiro ou o profissional que trabalha na construção de
edificações. Em dado momento histórico, sobretudo movido pelos ideais do
iluminismo europeu, casou-se a ideia de construção civil com a construção de um
tipo de indivído, distinto daquele do período histórico medieval. Será nesse
sentido que se pode tomar de maneira adequada os motivos em denominar uma
experiência de ensino de Filosofia como maçônica.
Esse ponto
de vista oriundo de Jesus de Nazaré, portanto, ganha forças nessa apropriação
iluminista que procura fundamentar suas proposições em bases consideradas
sólidas da fé cristã. Os renascimento e o iluminismo, dois movimentos culturais
de fundamental importância para compreendermos nossos dias, foram movimentos
que procuraram recriar as formas de viver em sociedade, e buscaram no passado
as referências para tal. Queriam ser diferente da cultura medieval, mas isso
não queria dizer que eles queriam apagar algumas referências culturais, pois
eles compreendiam que o problema não estava no cristianismo por si, mas
existiam um problema de interpretação. Para resolver o problemas era só buscar
um cristinismo lá da origem, sem os vícios do poder que ficou suscetível ao
longo de vários séculos, desde Constatino.
Outra fonte importante era a cultura grega e suas vizinhas egípicias e
persa.
Nesse
esforço de retomar o passado é que foi plausível no renascimento e iluminismo o
surgimento de escolas filósoficas nos moldes do pitagorismo da antiguidade
clássica. Nesse esforço, foi comum certas interpretações, interpolações e em
alguns casos confusões. Surgiu figuras como Hermes Trimegistro, Zoroastro, enfim,
todos fruto de um esforço louvável em criar novas formas do homem ser.
As
associações de profissionais ligadas a “construção civil” não ficaram de
fora do movimento cultural de seu tempo, quando surge a feliz associação entre
construção ordinária e a construção de si, enquanto indivíduo.
AS ACADEMIAS
No
contexto do Renascimento fundou-se em Florença, Itália, um espaço que se tornou
ícone do esforço dessa época. Trata-se da Escola Platônica de Florença na qual
Marcílio Ficino e Pico dela Mirandola, entre outros, se dedicaram a traduzir e
escrever sobre assuntos periféricos ao aristotelismo teológico reinante na
Europa continental. Foi nesse lugar e período histórico que o Ocidente passou a
ter contato com o Tratado Hermético, um conjunto de livros que estabeleceu as
bases de quase tudo que conhecemos como esoterismo no Ocidente. Como sempre,
esses livros foram e ainda são fonte de várias controvérsias e disputas
acaloradas. Para muitos, especialmente os pensadores vinculados à Igreja
Romana, esses livros não passam de ideias neo-platônicas, com tudo que esse
movimento implica. Para outros, sobretudos pessoas interessadas em esoterismo,
são obras primas que revelam conhecimentos mágicos e capazes de fazer coisas
fora do alcance de nossas imaginações ordinárias.
O legado
dessa escola é suscetível de várias discussões, o que é uma qualidade muito bem
vista na Filosofia, pois se a discussão fosse coibida ou dogmática não seria
filosofia, mas tosco catecismo. Porém, pode-se dizer que o mesmo espírito que
moveu os fundadores dessa experiência cultural na Itália Renascentista se espalhou para o
restante da Europa. Estabelecendo relações que podem ser verificadas na base
das Academias de Ciências, francesa e outra inglesa, que ainda se fazem
presente entre nossos dias.
No seio
desse movimento “acadêmico” lançado em Florença, Itália, vale ressaltar um
ponto muito importante. Surge dessa experiência algo novo e que os nobres da
Europa desconheciam, isto é, a discussão das idéias. Não se concebia a
possibilidade de debater e aperfeiçoar idéias na Idade Média sem que isso
colocasse em risco a própria condição de quem havia proposto esse ou aquele
pensamento. Se alguém discordasse da idéia de um Conde ou Duque estaria
colocando em risco a própria condição da pessoa ou o nobre mandava matar quem
discordasse dele. Portanto não havia
discussão e aperfeiçoamento das idéias, mas apenas exposições dogmáticas. Para
contrapor esse modelo, o germe plantado nas academias da Renascença consistia
em um espaço íntimo e propício para debater idéias sobre tudo e qualquer coisa,
sem correr risco de vida.
As
Academias da Renascença nasceram com o apoio financeiro dos Medicis, uma rica
família de comerciantes de Florença.
Outras Academias, como a do Cimento e a de Real Academia de Ciência da França e
a Real Sociedade de Londres para o Progresso do Conhecimento da Natureza,
também já nasceram com muito dinheiro no caixa. Porém, como que nas margens do
Poder de quem tinha dinheiro, surgiu toda uma cultura inspirada pelo desejo de
retomar um jeito de ser e viver que a tempo havia se perdido. Entre os inventos
mais conhecidos foram as associações de sociabilidade. Salões de chá, teatro,
literatura, declamações de poemas, as animadas conversas de bares e cafés.
AS
ASSOCIAÇÕES MENOS IMPORTANTES
Alguns
foram um pouco mais longe fundando associações formais, com regras, hierarquia
e intervenções sociais mais elaboradas. Os Compangones de França é um feliz
exemplo em atividade nos dias de hoje. Considerado pela Unesco como patrimônio
cultural. Com certa semelhança e com muito mais notoriedade tem ainda a
franco-maçonaria, ou os pedreiros-franco.
Os
fraco-maçons eram os que em algum dia no passado, na alta e baixa idade média,
trabalhavam na construção civil e utilizavam um tipo específico de pedra. Outra
alcunha que esse grupo adotou foi a de pedreiros livres, pois, no espírito de
reformar e reinventar um novo jeito de ser, eles verificaram que na Idade Média
existia uma forma de trabalho onde havia uma certa liberdade, dentre as várias
outras de servidão, que era a dos
“pedreiros”. Por uma questão obvia, os especialista em fazer casas,
castelos e igrejas tinha que se locomover de uma região a outra. Após terminar
uma empreitada, eles eram muito bem vindo em outra propriedade.
Nesse
contexto de “operários”, o termo maçom ganhou outro significado, pois foi
tomado como modalidade de organizações com fins de estudos e convivência. Em
algum momento da história a idéia de Jesus de Nazaré ganha força e uma mera
aglomeração de operários passa a ter outros fins. Construir o templo significa
um exercício sobre a subjetividade, uma metáfora para falar de um jeito de se
educar.
A
MAÇONARIA PROPRIAMENTE
A força dos
termos ligados à “construção civil” e das associações com esse nome motivou
milhares o surgimento de vários grupos não só pela Europa, mas teve seu ápice
público nos Estados Unidos da América do Norte.
A história
da Franco-maçonaria é um labirinto de teses e informações que nos leva a
desistir de querer propor um mapa desse quebra cabeças. Para os que conhecem as
cidades da Europa o caminho de compreender essa história pode ser outra via. A
observação das estrutura urbanas, com um modelo de construção de casas,
edifícios, pontes, castelos, dutos, etc, pode nos dizer muito. A quantidade de
edificação que utiliza pedras é impressionante e nos dá ao menos a pista de que
multidões de pessoas trabalhavam nessa cadeia produtiva.
Os túneis
debaixo de Paris são um exemplo que nos leva a pensar. Atualmente tem apenas 9
km abertos para visitas ao público. Porém, dados oficiais da prefeitura de
Paris registra aproximadamente 300 km de túneis. O que constitui em verdadeiro
problema público de afundamentos. Na construção dos vários túneis do metrô de
Paris as antigas marcas das extração de pedra provou um enorme desabamento.
Existe um órgão específico da prefeitura de Paris que cuida desses subterrâneos
e dos problemas que eles ainda hoje provocam. Aliás, os aventureiros em
explorar os túneis constituem verdadeira iguaria da eclética Paris.
Podemos
fazer a inferência que a construção civil sempre empregou muita gente e que
entre o vários pedreiros haviam aqueles que foram tornando-se mais polidos do
ponto de vistas da cultura letrada. Operando uma passagem do trabalho concreto
de extração e construção para a de administrador desses processos. A longa
cadeia produtiva da construção civil tornou-se o ambiente no qual a Filosofia
Renascentista e Iluminista fermentou.
Em uma
fase mais sofisticada pode-se verificar na franco-maçonaria homens de elevado
papel na hierarquia social. Porém, na sua origem é indiscutível o fato de que
serviço de pedreiro era praticado por pessoas simples e que, com o passar do
tempo, foram exercendo algum tipo de poder sobre os processos da cadeia
produtiva da construção civil. Para exercer essa função de comando pode-se
fazer a mesma inferência de que o conhecimento filosófico ou as idéias que
compõe o grande caldo cultural do Renascimento e Iluminismo tenha se tornado
apreciada por esses administradores.
O que
explica a permanência de metáforas da construção civil para se pensar e falar
de filosofia. Soma-se ainda outro fato, como nos alerta alguns pesquisadores de
História. Existiu o grande Iluminismo, feito por nobres e burgueses, e o
pequeno iluminismo ou aquele feito pelas pessoas mais simples. Nesse contexto
de ideais iluministas mais populares, a razão ocupava um lugar privilegiado,
mas não se expurgava a presença de Deus.
O que nos faz retomar novamente a idéia cristã de que o importante é
Templo interno. “Deixar que Deus habite vosso coração, ser morada de Deus”.
O fenômeno
social da construção civil na Europa parece-nos uma tese forte para explicar em
bases materiais o surgimento e sofisticação das associações que utilizavam como
método de formação metáforas da construção. A força da franco-maçonaria foi
aliar as condições materiais disponíveis à discussão filosófica. O que lhe
rendeu muita força, pois considerou e utilizou elementos presentes na vida do
cotidiano de milhares de pessoas.
CONCLUSÃO
Uma
Academia Maçônica de Filosofia assume para si o adjetivo maçom na perspectiva
de encarar o difícil papel de ensinar Filosofia nos dias de hoje. A eficiência no uso das metáforas da
construção civil nos parece ter força ainda hoje. Convidar alguém a ser mais
culto e ser um cidadão mais ativo pode parecer abstrato demais para um aluno de
ensino médio. Porém, se apresentarmos uma imagem na qual contém uma escultura e
que a mesma age sobre si, teremos um efeito mais amplo do que dizer o ditado
inscrito no templo de Delfos “conheça-te a ti mesmo”, a qual Sócrates tomou
para si e as vezes é até confundida entre nós como sendo dele.
Os efeitos
do conhecer a si também encontram ecos na idéia de Jesus de Nazaré em construir
o templo em si.
Enfim, a Academia Maçônica de Filosofia só tem relação
com o que conhecemos hoje como Maçonaria para aqueles que concluem
apressadamente. Para esses até mesmo o empréstimo de um termo da língua
ordinária, que não é de domínio privado, pode parecer mero acaso, truque para
enganar internautas. O que se pretende com esse projeto de formação em
filosofia é fazer uso de um longo e farto acervo de conhecimento disponível nas
melhores bibliotecas do Brasil, França, Argentina, entre outros países.
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