O ócio produtivo: ociosos ansiosos!




Introito

Esse texto é dedicado aos (meus!?) amig@s, Luciana, Cláudia, José Carlos, Givanildo, Estevam, ociosos de caminhada. Que sempre tiveram um ócio para os amigos, que “flanam" (fr. flâneur) com frequência, que curtem uma prosa ao léu.

Introdução
A presente divagação/texto tem como objetivo discorrer sobre o problema do hiper-objetivismo de nossos dias. De como tal “performance de varejista” nos inibe do ócio necessário para simplesmente estarmos conosco. E de como tal exterioridade objetivista nos possui, e nos impede, foco principal da minha reflexão atual, de compreendermos não só filosofia como exercício, mas de termos espaço em nós para uma contemplação do inominável; ou, para um bordão, de cuidarmos mais dos temas da mística (espiritualidade).

1. Ócio instrumental

O presente pode ser sempre uma leitura do passado, dos vários passados e um posicionamento distinto deles. Porém, o condicionante “pode" nos chama a atenção. Poucos somos os que procuramos esse equilíbrio, essa sabedoria e, para piorar, mesmo procurando o equilíbrio, pelo simples fato de estarmos no mundo real, mundo composto de variantes infinitas, não é certeza que conseguimos ser “sujeitos" de nossas histórias. Nós vemos frequentemente assujeitados (Estruturalismo filosófico).

O conhecimento das ciências de nossos dias não existiu desde o sempre. Ele tem um nascimento, fruto de milênios de gestação (tomando a matemática pura da Grécia Antiga). Assim, o conhecimento que nos permitiu nos últimos 500 anos dominar as intempéries da vida, prever o “imprevisto”, ampliar nossa força muscular, represar rios, aumentar a colheita, estocar calor, proteger os pés, pode, no seu uso inadequado, ter produzido um estado semelhante ao que ele próprio tentou evitar. A saber, não somos sujeitos, somos totalmente dependentes das tecnologias. Nesse âmbito do espírito é como se estivéssemos de volta à tão temida “idade media”, totalmente entregue a divina providência, hoje a divina providência do novo “App”, da nova cirúrgica por cateter, sem falar do onisciente plano de saúde e sua economia da vida. 

No contexto do conhecimento instrumental-técnico, pois tal saber se preocupa em ser sempre útil e capaz de produzir a dominação do sabido fabricando instrumentos para tal, o que podemos verificar é que o ócio e outras dimensões do humano foram banidas. O estereotipo, e como tal cheio de “ismos”, dos nossos dias é o “executivo" sempre envolto em projetos urgentes. Esse ser de nossos dias tem milhares de objetivos úteis em curso; e ele os executa como se a cada um dependesse o destino de toda a humanidade; como se todo o sentido da vida humana estivesse em jogo a cada manhã. A cada boletim da CBN, a rádio que não flana, mas “toca sandices, digo, notícias”. Ou nos jornalistas de economia, da CNN, Bloomberg, Tv5Monde, etc., sempre magros, esbeltos, brancos, altos e falantes de “ingreis”. O gordo, a barba a fazer, o baixo, o negro, a negra obesa, não fazem parte da hiper-performativo, são moralmente tratados como menores. 

Essa "performatividade de varejista” (no comercio o varejo produz a cada dia eventos novos para manter o número de vendas crescendo "ad infinitum) encampa o existir humano. Essa compulsão, muito bem tematizada na aristocrática psicanálise, preenche o existir do “varejista”. O ócio para ele é a angústia em pessoa. Ele não sabe ser por si; ele só é através dos objetivos úteis que o ocupa diariamente.

Eis o burocrata, preenchedor de diários* ( texto irônico que fiz para criticar os profissionais de educação que foram parar na escola por falta de emprego em outros setores.), que se locupleta nas tabelas, nos gráficos, sem jamais conseguir um minuto de ócio possível.

2. A “SOLUÇÃO DEFINITIVA: LEIAM CÍDIO LOPES/SIDNEY SHELDON” (rssssss)

Não tem saída pronta. O problema do sentido da existência e da própria existência, não está em fórmulas de Sidney Sheldon, muito menos Cortela ou Pondé, bons professores. (Olavo de Carvalho não é professor e muito menos filósofo; ele é um excelente pastor e catequista, mas morro de inveja dele por vender tanto livro catequético.)  

Como pensar a espiritualidade ou as coisas humanas propriamente? Como escapar ao desejo insano de ir ao supermercado e comprar mais uma nova “espiritualidade”, já que aquela budista da última semana já está na lata de lixo? Ou baixar o novo App da Cabala versão do ano seguinte?

Creio que um filósofo tenha mais habilidade em problematizar, em indicar causas sob as aparências ou até mesmo o que causa as aparências, do que as soluções. Solucionar não lhe é o “metiê" mais excelso dentro do modelo do “executivo de varejo”. Contudo, não indicar uma solução, o que afronta nossa ânsia de varejista e já nos coloca em situação de ansiedade, pode ser o jeito de encaminhar do filósofo e que tanto nos faz falta. Para os apressados varejistas, dos quais abundam falsos pensadores que não passam de catequistas laicos munidos de bugigangas úteis para a sua vida mais feliz, dizemos que se há uma saída essa não será nos moldes da razão instrumental técnica. Adiantamos ainda em dizer que fora da  razão útil há muito mais que  um oposto “dialético” (em Hegel toda determinação estabelece relação fulcral com o seu outro; o Grande Outro de Lacan).

O mais honesto é pensar que se é a vida de cada um, cada um é o mais importante nesse projeto. Propor saídas é retirar de todos esse lugar de estar consigo, de gozar de ficar só, de ver a “melancolia” (Refiro-me ao Filme de Lars von Trier) se aproximando. De curtir o ocaso do dia e das coisas, de silenciar-se, de nadificar-se.


Claro que tal situação é voluntária e se enquadra no “sei que nada sei” de Sócrates. (tema para outro texto) Ser “nadificado” pelo racismo, pelo machismo, pelo cartão de crédito é uma negação. É coisa de medíocres.

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