Sobre o desafio da Agricultura em Juquitiba 2





No primeiro texto que escrevi sobre agricultura em Juquitiba destaquei alguns problemas. Procurei detectar o que são problemas gerais e o que seria específico daqui. Recapitulando, viver sobre a terra sem estar ligado a ela é o problema maior da agricultura juquitibense. Esse estar sem estar é gerado aqui pelo fenômeno de cidade satélite, isto é, os vários sítios têm a função de lazer e seus proprietários moram em São Paulo Capital ou nas imediações. 

Fenômeno que não é de todo ruim, pois essa mesma população de proprietários, pois habitantes da cidade onde os fluxos de saberes são abundantes, poderia, em tese, ter mais acesso à informação sobre a terra; mais capital, etc. Contudo, o efeito acaba por ser negativo mesmo, uma vez que o lazer é o foco e os sítios passam a ser uma extensão da vida urbana no meio rural. Trazendo, sobretudo, os aspectos negativos da vida urbana que é o de ignorar a dinâmica da terra, dos ciclos da terra. 

Dentro dessa dinâmica de ignorar a terra, há uma série de consequências, mas os moradores que aqui vivem e que “não vem de lá” são os humanos que sofrem esse não-vínculo. Vivem como se numa realidade paralela, sem serem vistos. Realidade que infelizmente existe nos grandes centros urbanos, por aqui ela se manifesta na figura do “caseiro”, do trabalhador dos sítios. 

Qualquer avanço na agricultura por aqui passa por uma escola que consiga tratar de conectar as crianças à terra. Sem esse ponto, que até pode parecer estranho pois estamos a falar de agricultura, os demais serão sempre algo isolado e fracassados e no contexto geral do município o que se continuará a ver será a degradação da fauna, flora e da condição do humano que habita esse lugar. Ele precisa compreender que habitar o lugar é vincular ao lugar. 

Agricultura, no estilo de Ernest Goth, deve ser um jeito de inclusão; inclusão de biodiversidade tanto das plantas e bichos, como dos humanos. A terra não pode ser fonte de exclusão, inacessível pois agora é um  ‘parque de preservação’. Ela deve ser concebida como um parque de "Inclusão Permanente” (Goth) e por isso mesmo deve-se começar por uma Pedagogia da Terra; não é estranho falar de agricultura e logo vermos que o primeiro cultivo a ser feito é das pessoas. 

Mas não os cursos por aí, sobretudo os que o Senar oferecem, pouco irá mudar. Eles não consideram outros paradigmas. Ainda estão calcados na falsa ideia de que informação é formação e de que a informação seja suficiente para produzir contextos de representações. E não o contrário, as informações só fazem sentidos dentro de contextos de representações. O que deve ser examinado e mudado é exatamente esse contexto; as pessoas precisam antes de mais nada se vincularem à terra; estar sobre ela ligados à cidade e à dinâmica econômica da cidade(Revolução Industrial) só produzirá, como é constatável, fracassos. 

Voltemos às pessoas sobre a terra, primeiro passo para uma agricultura dar certo.



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