Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2007

A arte de preencher diários

A arte de preencher diários 1. O que está no âmago do preenchedor de diários é o remorso: “Eu não queria ter me tornado nisso”. 2. O preenchedor se envergonha (em caso negativo, deveria se envergonhar) de sua condição: originalmente, não queria ter se tornado um preenchedor de diários. Mas perdeu a luta, fraquejou, fez uma licenciatura. Não conseguiu realizar seus desejos, que era ser “bacharel”: cedeu, consentiu, desistiu. Reduzido a verme, encontrou conforto no chão: o preenchedor não precisa superar sua condição de fracassado, nem sequer precisa tentar: está assegurado o seu lugar no mercado de trabalho. 3. O preenchedor é um faxineiro que reduz sua grande ambição ao trabalho de desempoeirar o já preenchido. Mas não consegue se livrar da sujeira: jamais empunha a vassoura, porque tem vocação para o detalhe do preenchido. Sua timidez intelectual o faz trabalhar com pinças, analisando grão por grão, anotando cuidadosamente onde foram encontrados, para onde fora