Saber é Poder
Saber é poder, eternizou o dito de Francis Bacon sobre
aquilo que iria marcar profundamente a modernidade.
O saber que todos procuram nos dias hoje pode
"dotar" ou não o buscador (pesquisador) de poderes. Quando se faz um
curso superior, por exemplo, permite que a pessoa
entre em um campo de atuação, de exercício de um certo poder.
A procura por grupos de sociabilidade, especialmente a
maçonaria ou grupos como Pró-vida, Rosa Cruz, Fazenda Figueira/Trigueirinho,
tem forte marca desse desejo de "saber poder”.
Ampliando a reflexão sobre “cognição”, podemos mesmo afirmar que as disputas
por essa ou aquela universidade, esse ou aquele curso superior, são,
igualmente, uma procura social por saberes que irão fornecer um dado
poder.
A primeira lição que se deve ter
no que toca a maçonaria, em particular, é qual tipo de saber poder se
cultiva nela. Mesmo que o desejo de quem procura em ser maçom, um exemplo, seja
o "saber poder" do mercado, isto é, a pessoa está obcecada por entrar
num grupo que lhe dê vantagens nos jogos da vida, do
mercado. Porém, vale lembrar, o saber maçônico dos dias de hoje é eminentemente
um saber sobre si. Trata-se de algo "humanista".
Parece simples demais esse "segredo". Aqueles
fixados em saberes que mais se assemelham a um cartão
de crédito sem fatura irão duvidar. Humanamente é compreensível essa
insistência no desejo inicial do interessado em maçonaria ou nas demais
“sociabilidades”. Cabe aos membros dessas sociabilidades encaminhar a pessoa ao
ponto de perceber seus desejos, afinal podemos sim
ter desejo de estabilidade material, e a realidade dos grupos a que pretendem
entrar.
O problema está na forma como lidamos com nós mesmos.
Conhecer a si mesmo só tem simplicidade na frase. Na vida real a coisa é bem
complexa. A organização psíquica é complexa e a
tarefa de aparência"simplista" que é "conhecer a si" revela-se complicada, demorada, e comumente evitada
por grande parte das pessoas. Olhar para si vai muito além daquilo que o
espelho reflete de nossa imagem externa, pois rapidamente
descobrimos que até mesmo esse "si" não é algo dado, mas construído
desde nosso nascimento através das nossas relações afetivas e sociais. Ver o si
em mim mesmo já é um problema, pois numa sociedade machista, para citar um
exemplo do problema, o "si" da mulher
precisa ser refundado. Ela não deverá aceitar ver um "si" submisso,
que culturalmente lhe foi imposto.
O "saber poder" da maçonaria, como das demais
sociabilidades, se concentram nesse campo, nessa delimitação de ação que é o
indivíduo. As implicações que cada um pretende fazer
com esse saber, o saber sobre si mesmo, deve ser da esfera de cada pessoa. Ser
sujeito da própria história é algo muito relevante dentro da maçonaria, dado
sua marca liberal. Isso não implica que eu possa fazer o quem bem entender com esses saberes. Evoca-se com muito
frequência a necessidade de haver valores ou jeitos de se comportar na vida
social, pois ser sujeito da própria história, ser um liberal, não quer dizer
licença para fazer o “que dé na téia”, agir segundo
impulsos. Porém, é preciso dar a liberdade de uso do saber; conhecendo-se
através dos métodos de trabalhos maçônicos ou das demais sociabilidades,
espera-se que cada um utilize esse saber na "edificação" da sua
história pessoal inserida na vida social. O que
implica por partes das sociabilidades, incluíndo a maçonaria, em uma discrição
da instituição, pois quem deve aparecer são os indivíduos que dela fazem parte.
Devem aparecer no sentido apregoado pelo cristianismo, a saber, “ser sal da
terra”, isto é, ser um modelo de conduta para os
demais; ser alguém que inspire os demais a sua volta, através de uma vida
pessoal modelo. O que é um grande desafio e que não pode produzir o
efeito contrário, de alguém que se acha melhor do que os outros. De outro lado,
exige-se das pessoas que governam essa ou aquela
organização de sociabilidade um árduo exercício de discrição
institucional, lidando com o assunto mais perigoso para a condição humana: o
poder. Saber governar o grupo e colocá-lo a serviço da formação humana, sobretudo dos que são membros, é a tarefa mais
desafiadora, pois humanamente será comum o “poder subir na cabeça”.
Para colocar a instituição de sociabilidade a serviço da
sociedade onde está inserida, a internet tem se tornado um ótimo instrumento. Ter novos membros consiste na forma pedagógica mais
utilizada por todas as sociabilidades e se estendermos a reflexão, também é o
método das igrejas e filosofias de vida. No caso da Maçonaria, a
utilização da internet ocorre de forma muito tímida e consiste nos sites da organizações locais, denominadas de Lojas,
ou das organizações regionais, chamadas de Grande Lojas ou Grandes Orientes. O
que contrasta com experiências ditas “espúrias”, isto é, grupos que se utilizam
da metodologia maçônica para se auto-proclamarem
organizações maçônicas e com isso “angariar" adeptos pela internet. Hoje
em dia ao “digitar" o nome maçonaria certamente irá aparecer uma dessas
experiências lhe propondo “revelar” o segredo, isto é, lhe dar um saber com
poderes.
Dentro do espírito liberal não
caberia uma coibição dessas práticas por vias de Lei. O mais salutar seria uma
disputa de ideias, uma dialética no sentido lá Grécia Antiga. Seria o caminho
para um aprendizado para todos; fugir das afirmações facistas que um grupo ou indivíduos proferem contra o outro. É preciso, no caso
dos grupos que denomino históricos, apresentar que uma Loja Maçônica vai além
de um site, e que o saber-poder aí cultivado não é mágico, mas da esfera
filosófica e científica. Neste sentido as três Ordens
Maçônicas Históricas pouco tem feito. São elas, Grande Oriente do Brasil (GOB)
e seus respectivas seções Estaduais, Confederação Maçônica do Brasil e suas
representadas nos Estados - Grandes Lojas Estaduais/GLESP e a Confederação da
Maçonaria Simbólica e seus respectivos Grandes
Orientes Estaduais/GOP SP. Creio que apenas comunicados em seus sites seja
insuficiente, uma política de formação pública, através de palestras; bolsas de
incentivo científico à produção de monografias, etc, seriam necessários.
Apesar dos efeitos negativos, entre eles os que mais
aparentam esquemas de pirâmides ou métodos de doações das igrejas
neo-pentecostais, os sites tem sido uma excelente fonte de prospeção de bons
maçons. Geralmente, por experiência localizada em uma Loja,
pessoas com alto índice de leitura; no geral com maior nível
educacional; ambos se comparado aos membros que chegam à essa sociabilidade
pelas vias tradicionais. Certamente a ferramenta internet é polissêmica,
multi-uso, multi-facetada. Nela tem de tudo, o
desafio é não se perder na vastidão desse mar e não confundi-lá com a presente
do outro; o face-a-face da filosofia e Emanuel Levinás.
Outra faceta da internet nessa busca pelo saber-poder da
maçonaria e suas congêneres, é que o virtual nessa modalidade dos computadores que conhecemos e manipulamos hoje, pois há vários
virtuais na vida humana; nossa própria linguagem já é um tipo de virtual, é que
ela acaba por distanciar a nós de nós mesmos. Parece trocadilho mas não é. Se a
internet propicia que pessoas tomem conhecimento do
que é Maçonaria, essa mesma ferramenta pode também auxiliar na resistência de
entrar em contato consigo. Comumente fazemos resistência em entrar em contato
com nossas próprias questões, geralmente fruto de dor, traumas. Será corrente, nesse sentido, maçons que nunca entraram em
contato consigo próprio; alguns irão expressar essa resistência vociferando
ódio contra tudo, tampando com isso a demanda de contactar a si mesmo. Quanto
mais interessados no saber-poder, sobretudo quando
alimentado pelas fantasias ordinárias do que é maçonaria, mais resistência em
olhar para si as pessoas terão.
Lembremos que esse “si", já falado acima, também é
problemático. Pois essa idéia cartesiana e iluminista de um si, de um eu “claro
e distinto”, não é simples. O que acaba por aparecer
no cotidiano da sociabilidade maçônica.
Considerado tudo isso, você pode nos escrever.
(cidioalmeida@gmail.com) Em termos virtuais, cabe-nos apenas fornecer um tipo
de informação, que em geral não tem o "poder" de formação. Temos um repertório de mais de 6 mil livros de
filosofia e seus correlatos, como cultura religiosa, teologia, etc. Sempre
lembrando que somos professor de filosofia interessado em sociabilidades
filosóficas.
Comentários