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Fruição e seu problema

Quando defendemos que vivemos em uma sociedade por demais baseada no ter e não ser, não eliminamos por completo os benefícios do fazer técnico, responsável por produzir o que se tem. É inegável os benefícios para vida cotidiana que o saber técnico nos legou. Será pelos frutos desse saber que várias pessoas de ciência ou não ficaram encantados ao longo dos séculos XVIII e XIX; Ainda hoje é possível sentir essa experiência. Quando se tem contato com uma propriedade rural logo sabemos o quanto se faz necessário uma intervenção técnica. Podemos e devemos discutir quais técnicas, mas não dá para abrir mão de saberes capazes de produzir efeitos práticos. Seja na captação de água, produção de energia elétrica, acomodação adequada de "lixo". Aliás, também se estende para a vida dos "bichinhos" que você venha a ter, sobretudo quando misteriosamente os "pintinhos" começam a morrer. Situações práticas nos demanda saber técnico; a questão é que tais efeitos for

Posse e fruição!

Nos dias de hoje estamos sendo levados a pensar a vida na perspectiva puramente da posse. Ter campeia em todas as áreas da vida. Assim não seria diferente no campo dos saberes. Já é de tempo que o saber técnico-instrumental é o preferido; assim temos as disputas acirradas para os cursos de engenharia, mas quase nada para os de matemática, física e as demais ciências de base, que é exatamente a base das engenharias. Portanto, não basta ser técnico, é preciso ser aplicável na no mercado das profissões. Longe de mera opção individual, somos todos levados por essa modas. Afinal, dado a forma como a vida está posta, se fizermos a tentativa de outras opções seremos logo castigados pelas regras do jogo. Nesse sentido, o castigo é ser um sem emprego; sem formas de vender algo para ter outras.... Nessa disposição o importante é tocar a mercadoria. Pegar, palpá-la, colocar na boca, no bolso, fazer o objeto ser eu. Qualquer outro  "produto" que não seja transformado nessa materia

Padres pedófilos

postado originalmente em Jornal Correio do Brasil Perdido no litoral sul do Chile, num pequeno vilarejo frio quase inóspito, existe uma casa onde vivem, como s fossem aposentados, os  padres  pedófilos da Igreja Católica. Vivem com horários rígidos,dedicados à oração e à penitência e têm apenas uma ocupação externa: a de acompanhar corridas de cachorros, já que um deles possui e treinou um cão de raça. O local seria uma espécie de santuário, o santuário dos  padres  pedófilos. Essa a síntese do filme chileno O Clube, de Pablo Larrain, mostrando com a Igreja Católica reagrupa em locais distantes e fechados como prisões, seus sacerdotes pedófilos, aplicando uma lei própria para evitar novos escândalos públicos envolvendo os clérigos. A casa, funcionando como uma pensão, administrada e sob o controle de uma católica fanática, fria e cruel é imaginária, pois o filme não é um documentário, mas pensões-prisões parecidas existem espalhadas pela América Latina ou, então, os padres pe

Serginho Groisman, um velho adolescente!

Certamente esse texto não deseja falar de vida pessoal. O nome do famoso apresentador "fala garoto" é apenas um ícone público donde quero falar do fenômeno da eterna juventude ou adolescência. Por ofício, creio, o apresentador, que agora "viraliza" por ser pai aos 64, sempre nos passou a ideia de jovem. O que nos faz lembrar que entre as classes sociais mais beneficiadas pelo dinheiro a adolescência vai facilmente aos 50. Para além dos indivíduos aqui citados, pois lembro-me ainda de Supla - o punk roque adolescente,  a questão oportuna de se pensar é sobre a nossa atual ideia de viver. Na lógica do consumo, da nova versão, da constante atualização, do App que irá, enfim, nos redimir, a vida também entra nessa ciranda irrefletida. Viver a juventude ou adolescência parece-nos uma vida de laboratório, artificial, pois concebe a vida humana negando aspecto dessa própria vida. Uma vida não natural, orgânica; pois seria como um corpo que só tivesse orelha; já o c

Religião, linguagem e Poder!

O discurso religioso tem como marca discursiva aquilo que chamamos de subjetivo. Portanto, a religião faz uso da linguagem, mas a desterra daquilo que próprio dela. A saber, a linguagem é uma invenção humana que faz a mediação por excelência; que permite o humano se relacionar, mediar. Que faz a ponte entre ele e um outro.  Mas curiosamente a religião é o uso da linguagem sem o representado. Há uma representação, mas a quem se refere tal representação não é um elemento objetivo. Ele, o elemento representado na religião, por “definição" escapa ao conceito de objetivo; o que nos leva a dizer que não se trata de definição(delimitação), mas de uma sinalização; uma indicação que, assim, não demarca, mas indica para algo maior, além. Ele, o ‘objeto' da religião, precisa por definição exceder o objetivo.  Será nessa impossibilidade linguística que o humano irá representar o improvável. Dado o fenômeno da linguagem humana, sem aqui nos perguntar como isso se deu, somos confr

Modernos? que nada, medievais!

Conhecimentos filosóficos e outros vizinhos como os místicos defrontam de dois modos com a vida cotidiana. O primeiro é a total falta de interesse.  O segundo é a formação de um mundo sem nexo com a vida ordinária. Alias, nesse grupo pode ser posto os que aderem a uma religião que faz proselitismo. O esforço para uma terceira via encontra resistência dos dois grupos anteriores. Aos quais podemos somar ainda o mundo acadêmico em geral. Um lugar ao sol para tais saberes fica restrito aos próprios cursos de filosofia, teologia e ciências da religião.  Portanto, podemos verificar que o constante apartamento dos saberes não só deixa para trás vários conhecimentos, que outrora foram as bases deles no presente, mas acentuam o isolamento como prática de Poder. Afinal, eu quero “ter esse” saber que me dá poder. Assim podemos pensar o frenesi histérico (!?)  pela “magia” das “novas tecnologia”. Elas não só são nossa mágica contemporânea, mas podem também serem relacionadas à id

Sefer Ietsirá

Houve épocas em que conhecimentos eram mantidos em segredos. Suspeita-se que até mesmo conhecimento algum era ‘guardado' em segrego, mas havia uma ideia geral de saberes ‘guardados’.  Hoje em dia há a sensação de que tudo é ‘acessível’. O pretenso desenvolvimento total parece fazer parte do desencantamento ou dessacralização da realidade. Porém, o acesso total não passa de uma sensação sem correlato na realidade. Sendo realidade apenas enquanto sensação subjetiva das pessoas. Não temos acesso às informações mais básicas e necessárias para a nossa vida diária, enquanto prova cabal de nossa falta de informação.  A título de exemplo, não sabemos a composição da água que chega à nossa torneira. Não conseguimos nem mesmo compor uma alimentação diária segundo a nossa efetiva necessidade. Mesmo com a abundante literatura de ‘auto-ajuda’. Nesse cenário vale a pergunta: temos uma vida melhor que nossos antepassados rurais? Não teríamos apenas a sensação de uma vida melhor